A
personagem principal, desencadeadora da ação se chama Luz, ela acaba de fazer
13 anos, é filha de migrantes nordestinos, é negra e mora numa favela central,
seus amigos são: um menino que vive em um orfanato e tem por parente vivo
apenas um tio alcoólatra, um colega de escola, Michel, pouco mais velho do que ela,
que é imensamente popular com as garotas, apesar de ser um jovem fora dos
padrões estéticos considerados atraentes, um garoto de mesma idade que Michel
de uma outra comunidade que é descendente de nigerianos, usa dreads e toca
percussão e uma índia que saiu da aldeia para cursar o primeiro ano de
faculdade de sociologia a fim de ajudar na demarcação das terras de seu povo.
Os
heróis divinos dessa história são os orixás da mitologia nagô, respectivamente,
Nanã, Xangô, Oxum e Oxóssi, além de Oyá e Exu, divindades que aparecem neste
primeiro livro objeto do presente projeto.
O
mundo fantasioso do livro se constrói paralelo a uma realidade muito dura e é
perpassado por entidades divinas e heróis nacionais, construindo um mundo
invisível onde o equilíbrio é a chave da felicidade e da permanência. Apesar disso tudo, não se pretende revelar
nenhum segredo do povo de santo, nem estimular quaisquer ritos sagrados, mas
sim libertar tal herança cultural do crivo religioso para o âmbito da
criatividade e da construção do saber.
O espaço é uma metrópole brasileira. O tempo, não exatamente datado, indica
um futuro não muito distante de 2016 em que uma espécie de Segunda Reforma
aconteceu, houve perseguições religiosas, culturais e censura no
desenvolvimento das aulas. O objetivo é indicar que todos os temores sobre o
retrocesso conservador que se indicam no nosso atual contexto sócio político
vieram a cabo.
As personagens estão em dois nichos principais: pessoas comuns com
todos os traços físicos e de personalidade das pessoas que serão o público alvo
da obra, por exemplo uma menina que não gosta das disciplinas de humanas, não
gosta de estudar, ajuda muito em casa e mora na favela, ela é nossa personagem
principal que não tem nada de especial na vida cotidiana, suas melhores amigas
da escola Aninha e Evelyn, que paqueram o popular Michel. Michel, que aliás,
mora com a irmã pois seu pai o abandonou quando criança, realidade de quase
dois terços dos meus alunos, e sua mãe e avó já faleceram, além disso ele está
esteticamente fora dos padrões de beleza, está acima do peso e não se dá bem em
educação física, apesar disso é lindo e popular.
Um garoto magrelo, esperto que acabou num orfanato e é amigo de
moradores de rua e de prostitutas. Um jovem negro, descendente de nigerianos
que tem uma família enorme e bagunçada e precisa trabalhar para se sustentar.
Uma índia, esta sim, menos comum aos olhos desatentos, mas que traz à tona
questões importantes sobre essa origem brasileira tão desconhecida e sobre
as
questões éticas e sociais que deveríamos tratar muito mais nas escolas entre os
povos indígenas e o eterno colonizador branco. Do grupo de pessoas comuns ainda
fazem parte os adultos coadjuvantes, a mãe abandonada pelo pai de Aninha, as
cuidadoras do orfanato, os professores, os pais de Luz, a irmã de Michel e seu
marido, o avô e a tia de Akin, pessoas que são vitoriosas por sobreviver a cada
dia, heróis do cotidiano, resistentes e que vão alimentando nossos heróis
adolescentes com essa força velada, com esse exemplo diário.
E, há também, o núcleo de personagens sobrenaturais, inspirados na
cultura afro, orixás que dão a seus filhos poderes sobre os elementos da
natureza, Ancestres, pessoas do culto que já estão no mundo invisível e
aconselharão os jovens heróis, entre eles grandes nomes da nossa história, em
forma de homenagem, como Mãe Aninha, Mãe Menininha, Jorge Amado, que foi obá de
Xangô e era filho de Oxóssi, o babalawô senhor Martiniano do Bonfim e Mãe
Cleuza, além de uma infinidade de entidades como Eguns, Kiumbas, Egunguns,
mensageiros e caboclos.